“São felizes por como as coisas acabaram sendo?”
Eu fiquei esses dias pensando nesse lance todo de universo paralelo que a NASA descobriu. Não cheguei a ler nada sobre o assunto, mas as próprias manchetes das notícias me fizeram questionar várias coisas. Ontem, pra reforçar, assisti um episódio de uma série que eu gosto muito que uma das personagens falou algo parecido com o título desse texto e a primeira frase de introdução.
Sábado passado, limpando meu quarto, eu achei escondida uma carta que eu fiz pra mim mesma em 2015, onde eu só poderia abrir ela em 2020. Eu sabia que a carta existia, só não me lembrava que era datada para essa ano. Abrir ela foi um mix que sentimentos. Eu ri, chorei e refleti muito.
A experiência de fazer essa carta foi incrível. Ainda bem que eu fiz. Não consigo me lembrar o que foi que me motivou fazer ela. Na carta, eu falo que foi logo depois do banho, quando minha mãe falou que eu tinha desistido da carreiro no cinema. Na época eu estava no meu primeiro ano de faculdade, estudando letras-inglês e no meu segundo e último ano de curso de atuação. Ainda usava aparelho e trabalhava em um emprego que eu não gostava. Na época, o meu sonho mais forte era o de ser atriz. Eu queria e desejava aquilo com todas as forças do meu ser.
Durante a carta, escrita a 5 anos atrás, eu faço diversas perguntas. A minha curiosidade pra saber tudo o que mudou durante esse tempo era muito grande. Uma das coisas que eu mais esperava que tivesse mudado era a minha vida profissional. Escrevo na carta que tenho a certeza de que eu já saí do Rio Grande do Sul e agora moro em São Paulo. E continuo, dizendo que, se caso isso não tenha acontecido, eu explique pro meu eu do passado o porquê.
No parágrafo que segue, eu escrevi duas opções. A primeira é que se eu tivesse seguido o sonho e o alcançado seria maravilhoso. A segunda é que se caso eu não tivesse feito, era pra eu seguir ele agora, pois o motivo pelo qual eu não o segui foi pelo medo.
A carta segue e eu faço diversas perguntas. Pergunto sobre amizades que não existem mais e de reconciliação com uma amiga que realmente aconteceu. Também questiono sobre meus estudos e sim, eu larguei a faculdade de letras e agora estudo cinema (produção audiovisual, na verdade). Pergunto sobre minha vida amorosa e, de lá pra cá, tive dois relacionamentos, um que foi bem complicado e o atual, que parece até sonho de tão incrível.
Depois da bateria de perguntas eu falo um pouco sobre o momento que eu havia escrito a carta. Eu estava sentada no chão do meu quarto, de pijamas, cabelos molhados e com os fones (sempre) nos ouvidos. Recém tinha começado a ler “A garota que eu quero” e naquele dia também assisti ao filme “Flores raras”. E também naquele dia, a série Glee chegava ao fim.
Por fim, trago mais algumas perguntas e uma previsão minha da Sabrina de 18 anos para a Sabrina de 23. A previsão não podia estar mais errada. Mas não consigo dizer até que ponto isso é bom e até que ponto é ruim.
Quando eu ouvi o questionamento no seriado: “São felizes por como as coisas acabaram sendo?”, combinado com o sentimento de poder existir um universo paralelo com o qual tudo pode estar muito diferente, eu me lembrei da carta. Que eu ainda não respondi.
Eu lembro direitinho da Sabrina daquela época. Os sonho eram os responsáveis por fazer ela seguir em frente. Quando ninguém acreditava que ela conseguiria, crescia ainda mais a vontade e a gana dela de ir atrás. Só que a vida acontece. Os sonhos mudam. E tá tudo bem.
Eu sempre cobrei muito de mim mesma, a vida toda. Precisava ser excelente em tudo, precisava ser a prova de falhas. Eu pensava que seria fraca e incompetente caso eu não conseguisse realizar meus sonhos e os abandonasse. Quanta besteira…
Hoje eu sigo me cobrando e me esforçando pra fazer tudo o que eu amo e que me motiva da melhor maneira possível, mas quanto aos sonhos… Eu pensei em mudar eles, sem a pressão de me achar uma fracassada caso quisesse segui outro rumo. Só que a carta e um tumulto em uma disciplina na faculdade me fizeram perceber o quão equivocada eu seria em trocar sem nem ao menos tentar.
Desde novinha eu me imagino nos bastidores de programas, sonho com dar entrevistas sobre filme e séries das quais eu produzi ou atuei. No caminho que eu me encontro agora, tudo isso é possível, eu só preciso continuar. Talvez se eu tivesse tomado atitudes, escolhas e decisões diferentes, a carta receberia uma resposta diferente do que a que darei. Ou talvez eu nem a tivesse lido. Talvez, em algum lugar paralelo a minha vida esteja muito diferente. E eu nunca vou ter resposta pra isso.
Agora, eu sou feliz com como as coisas acabaram sendo? É, eu sou sim. Não tem quase nada parecido com o que eu sonhei em 2015, mas de lá pra cá eu fiz intercâmbio pra Inglaterra, troquei de curso na faculdade, viajei pra Orlando, participei do festival de cinema de Gramado, conheci meu incrível namorado, faço estágio em audiovisual e frequentemente recebo elogios pelos meus trabalhos e projetos da faculdade. Como eu não seria feliz com tudo isso? Claro, nem tudo foram flores nesses cinco anos, mas eu não poderia estar mais satisfeita.
Pra mim, tudo acontece por um motivo, por uma razão. Acredito que eu esteja exatamente onde eu deveria estar e que eu não tenho o poder de imaginar todas as coisas boas que estão por vir. Ainda bem. É bom ser surpreendida (pra coisas boas né?!).
Enfim, foram quase mil palavras pra dizer que escrever cartas pra mim mesmo talvez venham a virar rotina. E que é totalmente aceitável sonhar e realizar, independente de quando, onde e o quê. Sem medo de tentar e de arriscar. Sem medo de mudar e se transformar. A gente está onde deve estar.
Sabrina de Lima.